Hoje eu estava lendo algumas coisas na internet e parei para pensar: em que momento eu me tornei feminista?
Calma, se você é menino não pare de ler esse texto aqui. O feminismo é importante e você vai entender por quê. Já você, menina que não sabe se é feminista, deixa eu te dar o caminho das pedras.
O feminismo surge como forma revolucionária ao que as mulheres são submetidas na sociedade e à realidade imposta a nós pelo machismo. Como assim? Vocês devem ouvir muito por aí as expressões "para de ser mulherzinha", "vira homem", "lugar de mulher é no fogão" "não tem louça pra lavar não?", "essa profissão é muito masculina para você"... Pois é, se alguém já te falou alguma dessas frases, com certeza você sentiu na pele o peso da desigualdade de gênero. Nós estamos rodeadas de esteriótipos machistas e as vezes nem percebemos.
Vocês sabiam que as mulheres pós-graduadas, em geral, recebem salários menores que os homens pelas mesmas funções exercidas por eles? Ou que uma em cada cinco mulheres já foi estuprada em algum momento da vida? Sabia que no seu país, é normal achar que as roupas que você usa são culpadas por você ter sofrido assédio sexual, ou que 16% dos jovens concordam que o homem pode agredir uma mulher se ela não quiser fazer sexo com ele (oi??)? E para piorar, sabia que a Lei Maria da Penha, que serve para proteger a mulher contra agressões, não diminuiu as estatísticas de 5 mil feminicídios por ano, 15, 5 por dia? Ou que muitas mulheres têm medo de seguir com a queixa contra seu agressor, porque sabem que ele não vai ser condenado e acabam permanecendo por anos num relacionamento abusivo e regado de medo? Pois é... Esses são só alguns dos dados que me fizeram abrir os olhos e entrar de cabeça no feminismo. Não apenas por ser mulher e querer ter a liberdade de falar palavrões ou amar a cor azul sem que me digam que "isso é coisa de menino", ou andar de vestidinho sem escutar os assovios e as cantadas desagradáveis. Mais ainda para ter a liberdade de escolher se vou me casar e ter filhos, ou se quero investir mais na minha carreira do que constituir família. Se quero jogar video-game com meus amigos ao invés de ir ao salão de beleza, se quero estar bonita sem que me digam que eu estou me arrumando para meu namorado. Eu me tornei feminista porque anseio fortemente pelo dia em que as mulheres poderão dizer que gostam de sexo sem que sejam tachadas de piranhas, vadias, "fáceis" e sejam condenadas por isso.
Busco valer a vida de todas as mulheres que foram condenadas à fogueira, todas que morreram simplesmente por serem mulheres e todas que se calam diante do sofrimento. Desejo o dia que o cenário político mundial será equilibrado entre mulheres e homens e que isso não seja estranho. Quero meu empoderamento, minha sororidade, meu lugar ao lado, não atrás nem à frente. Me tornei feminista por mim e por todo mundo. Porque, sim, não é só a população feminina que precisa do feminismo.
Eu acredito que feminismo não é só a busca pela igualdade dos gêneros, mas a luta pela quebra de qualquer opressão. Meu amigo, o machismo não desaba apenas sobre nós. Quando você é obrigado a agir de certa forma para demonstrar masculinidade, você está sendo oprimido. Quando te rotulam por gostar de algo denominado do universo feminino, você está sendo oprimido. Quando você se sente "menos homem" e tem vergonha de assumir que as vezes não está afim de transar, você está se oprimindo. Você, assim como eu, está sendo oprimido o tempo todo. Então, homem, se você se unir contra a opressão e for a favor da liberdade, que é o que o feminismo propõe, você também vai ser mais feliz.
Antes de finalizar esse texto quero desconstruir uma ideia terrível que muitos têm sobre o feminismo e que na verdade não tem nada a ver com ele: o ódio aos homens. Amiga, você não precisa ser adepta da misandria para ser feminista. Os homens ainda vão fazer parte da sua vida, do seu ciclo como ser humano, do mundo em que você vive. Eu repudio o ódio gratuito, principalmente porque sou a favor de qualquer forma de amor. Eu não odeio os homens, pelo contrário, os amo tanto que os quero adeptos à luta contra a repressão ao LADO das mulheres. Eu não quero que o marido receba pena de morte por bater na esposa. Eu quero que ele não bata nela nunca para não precisar ir à forca.
Enfim, o feminismo é muito mais profundo do que um texto de poucas linhas e eu recomendo que se você se interessa, apenas saia dessa redoma de conformidade e se assuma como mulher (ou homem) disposta a dar a cara a tapa pela sua liberdade. Porque não há vergonha nenhuma em ser mulher, amar seu corpo, desejar alguém hoje e ficar com três caras numa mesma balada, deixar seus filhos na creche e sair para trabalhar, estudar engenharia ou arbitrar uma partida de futebol. Isso não te torna piranha ou masculinizada. Te torna dona das suas próprias vontades, do seu próprio corpo, do seu espaço. Ser feminista não faz de você um monstro, faz de você a "descendente das bruxas que não conseguiram queimar" e que vai além pela sua própria liberdade.
Ah, um bônus Filha de Frida, dessa que vos fala: abaixo um vídeo de uma vlogueira que eu acompanho, a Luisa Clasen, dona do canal Lully de Verdade que, além de falar sobre filmes, é feminista e te ensina a identificar se você também é. E melhor, ajuda a clarear a nebulosa dúvida do "o que é feminismo".