Eu nunca fui boa com finais de festas. Nem com inícios.
Aquela coisa de ter que me despedir de quem restou no ambiente é tão constrangedora quanto chegar e ter que encarar e cumprimentar cada rosto conhecido e desconhecido. Os anfitriões, seus familiares, a namorada do primo de fulano que faz arquitetura...
Que bom seria se essas formalidades e a mania constante de rotular não nos perseguisse tanto. Imagine chegar em algum lugar, sem ter que se preocupar em dar dois beijinhos e um sorriso amarelo para cada criatura presente! Tenho certeza que os esbarrões com desconhecidos renderiam, enfim, sinceridade na tão comum indagação "oi, tudo bem?". As conversas seriam tão mais reais, os beijinhos dariam lugar a bons abraços, os sorrisos amarelos à novos amigos. Novos amores, nasceriam de um simples encontrão, de uma dança inocente, de um "nossa, eu sou irmã da fulana, de onde vocês se conhecem?". O abraço bom e apertado de "quanto tempo" daquele velho amigo seria a coisa mais bela de se captar...
Chegar de mansinho, pegar uma bebida e se distribuir entre as tribos. Se todos fizessem o mesmo, no fim da festa seríamos uma tribo só. E as despedidas seriam dispensáveis. Ao invés do "tchau, se cuida" deixaríamos lugar para aquela incógnita presa na vontade de nos encontrarmos de novo. Eu sempre acreditei que um beijo ou um aperto de mão, não cabem como conclusão de uma boa e longa conversa. Por que estragar com despedida se a gente nunca sabe se os segundos seguintes serão nossos? Eu prefiro um abraço com cara de "esse não vai ser o último", a um "nunca mais" travestido de "até logo".
Já pararam para pensar que a sensação maravilhosa de rever alguém que tanto você quer bem, vai ser anulada pela desolação de ir embora depois? Maldade é deixar seu coração se encher da doçura na chegada e, sem aviso prévio, deixá-lo sentir o amargor da partida. Seria incrível se pudéssemos deixar congelado no tempo os risos soltos das conversas leves... Dizer não ao peso de um adeus, aceitar de braços abertos o "olá" de amanhã ou de daqui dez anos.
Na minha concepção maluca de mundo, a gente deveria chegar na vida de alguém sem convite, sem apresentações, sem futuras despedidas. Se estagnar num momento e permanecer ali para sempre, torná-lo palpável nas lembranças e ter a certeza de poder voltar a vivê-lo quando quisesse.
Não me despedir, não ser obrigada a formalidades milenares. Quero ser surpreendida nos encontrões dos corredores, nos olhares trocados, nas risadas saborosas das novas amizades. Fazer da minha vida uma festa constante e deixar os penetras inesperados entrarem e me revestirem de novidades. Só chegadas, sem partidas.